Mediunidade: Como tudo começou
Tudo começou quando nasci. Um espírito auxiliou na hora do parto. Anos mais tarde, ingressei em uma igreja evangélica, e aí as coisas começaram a acontecer de verdade. Era espírito para todo lado. Só que eu achava que eram “anjos de Deus” e mais tarde interpretei como demônios. Eu queria muito ser pastor evangélico, sair pelo mundo pregando o Evangelho a todos. Mas… os espíritos tinham outros planos para mim.
Desde que me dei por gente as coisas parecem diferentes. Seriam diferentes também para os outros meninos? Desde criança aprendi a brincar com o vento, com as vozes, com os vultos. Desde criança minha mãe sabia que eu teria um destino diferente de meus irmãos. Ela me contava, em nossas conversas, que temia o momento em que eu iria embora para o mundo — expressão tão ao gosto de minha saudosa mãe — e não voltaria mais.
Todos esses pensamentos, todas essas emoções e lembranças cariciosas me remetem ao passado, no ano de 1979, na cidade de Governador Valadares, região leste de Minas Gerais. Era uma tarde de sábado. Deveria realizar uma pregação na igreja da qual participava, quando Zarthú resolve aparecer. Ele e um amigo espiritual, ao qual devo os melhores momentos de minha vida: Joseph Gleber.
Eu lá, parado, esperando o coral cantar. Ao meu lado, os pastores, que aguardavam o momento em que iria falar àquela assembléia e decidiria para sempre o meu destino. Assim eu pensava, assim eu esperava. Eu queria, com todas as forças de minha alma, ser um ministro de Deus. Aquele era o dia do teste, da pregação da palavra de Deus. Dali, sairia mais um pastor, mais um ministro consagrado ao Altíssimo, conforme era esperado por todos. Creio que minha mãe nunca rezou tanto como naquele dia. Ela sabia que aquele não era o meu caminho. As mães são sempre mães. Quando eu disse para ela que seria um pastor evangélico — minha mãe não era evangélica —, ela me disse que aguardasse o tempo e que o tempo era mais sábio do que eu. Eram palavras enigmáticas, que escondiam a sabedoria de uma mulher simples, mas que sabia amar.
O amigo espiritual Zarthú aparece para mim minutos antes de eu começar a pregação. Não sei dizer ao certo o que senti, mas de uma coisa tenho certeza: eu sabia que não sairia dali o mesmo. Ele veio de mansinho, e, com o olhar penetrante, senti que me rasgava o interior, devassando-me a alma. Minha respiração ofegante denunciava a emoção daquele momento que eu jamais esqueceria. Zarthú aproximava-se vibratoriamente de mim. Um misto de medo e de emoções contidas durante anos parecia se avolumar em meu peito. Senti como se estivesse para explodir, tão forte meu coração batia. A presença de Zarthú naquela ocasião tinha algo de diferente; era algo que eu não sabia definir, diante da força moral que o espírito deixava transparecer. Ele sabia o que eu pensava, e mais: ele penetrava em meu interior, como se me conhecesse desde longas eras. Não tinha como me furtar ao seu olhar e à sua energia vibrante.
Pensei que iria morrer ali mesmo. Ao meu lado, o Pastor Benedito segurava minha mão, que a esta hora estava úmida de suor. Eu tremia e, para o pastor, eu estava com o olhar fixo no nada. Eu olhava para alguém que ele não podia ver. Senti como se algo quebrasse dentro de mim. A impressão era a de uma casca de ovo se quebrando dentro de minha cabeça.
Zarthú falou. Aliás, eu percebia sua voz pela primeira vez nesta existência. Até então ele nunca falara nada para mim ou, se falara, não utilizou palavras articuladas, e eu não soubera interpretar o olhar, a expressão e os gestos do amigo espiritual. Mas ele resolveu falar. Eu percebia sua voz ressoar dentro e fora de mim. É uma voz potente, marcante e, ao mesmo tempo, suave e pausada. É algo difícil de descrever. Creio que somente com a alma se pode perceber a grandeza de momentos como aqueles vividos por mim. Nenhuma palavra ou expressão é capaz de representar o verdadeiro significado de que se reveste para mim a palavra de Alex Zarthú.
— Termina aqui, hoje, seu estágio nesta religião. — Foram palavras difíceis de ser interpretadas, se é que tinha jeito de serem interpretadas, já que ele, Zarthú, deixava transparecer tal firmeza que não havia como contestar. Depois, viria o conselho sábio, do qual até hoje não me esqueço:
— Aconselho-te que estudes os livros de um estranho [para mim] senhor chamado Allan Kardec. — Zarthú não deixava margem para ser interpretado. Ele mesmo se interpretara; era uma sentença da qual eu não poderia fugir. Ele definia ali, na igreja, toda a minha vida.
A partir de então fui cativado pela presença e pela energia do amigo que até hoje, através de palavras sábias, tem guiado meus passos. Creio que muito mais eu poderia dizer e muitas coisas com certeza ficaram sem ser ditas. Porém, quero deixar aqui registradas apenas minhas emoções, minhas impressões, as quais você, leitor, talvez possa sentir um pouco, ao ler essas palavras, que dedico a todos os médiuns que um dia tiveram o prazer indescritível de encontrar em sua vida alguém que, como Zarthú, tem se mostrado de inquebrantável confiança e de uma fortaleza moral irresistível.